Todos os dias trazem qualquer coisa

"Casa arrumada é assim:
Um lugar organizado, limpo, com espaço livre pra circulação e uma boa entrada de luz.
Mas casa, pra mim, tem que ser casa e não um centro cirúrgico, um cenário de novela.
Tem gente que gasta muito tempo limpando, esterilizando, ajeitando os móveis, afofando as almofadas...
Não, eu prefiro viver numa casa onde eu bato o olho e percebo logo: Aqui tem vida...
Casa com vida, pra mim, é aquela em que os livros saem das prateleiras e os enfeites brincam de trocar de lugar.
Casa com vida tem fogão gasto pelo uso, pelo abuso das refeições fartas, que chamam todo mundo pra mesa da cozinha.
Sofá sem mancha?
Tapete sem fio puxado?
Mesa sem marca de copo?
Tá na cara que é casa sem festa.
E se o piso não tem arranhão, é porque ali ninguém dança.
Casa com vida, pra mim, tem banheiro com vapor perfumado no meio da tarde.
Tem gaveta de entulho, daquelas que a gente guarda barbante,
passaporte e vela de aniversário, tudo junto...
Casa com vida é aquela em que a gente entra e se sente bem-vinda.
A que está sempre pronta pros amigos, filhos...
Netos, pros vizinhos...
E nos quartos, se possível, tem lençóis revirados por gente que brinca ou namora a qualquer hora do dia. Casa com vida é aquela que a gente arruma pra ficar com a cara da gente.

Arrume a sua casa todos os dias...
Mas arrume de um jeito que lhe sobre tempo pra viver nela...
E reconhecer nela o seu lugar."

Carlos Drummond de Andrade

Porque hoje me sinto sem forças, acabei "andando" pela internet a visitar palavras de coragem, de animo, de estimulo, de conforto. Encontrei num click ao acaso este vídeo. Uma maravilhosa palestra da Drª Anete Guimarães, que eu desconhecia mas que graças à internet fiquei a saber que é uma psicóloga, investigadora e oradora internacional.

Sem me aperceber, fiquei colada a 1h e 12 m...muito bom...uma linguagem muito acessível, uma simplicidade cativante, objetiva, esclarecedora e sem duvida com uma mensagem que nos leva a mudar totalmente a nossa relação com a vida. Vou guardar por aqui porque não me deixou indiferente, acho que não vou ser mais a mesma...

“Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei...porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.”

(Mateus 11, 28-30)

"Quando não há nada mais a ser dito, silencia.
Quando não há mais nada a ser feito, permitas apenas ser, apenas estar e fica na companhia do teu coração e este indicará o momento apropriado para agires.
Quando a lentidão dos dias acomodar tua vontade, enlaçando-te com os nós da intranqüilidade, descansa e refaz tua energia.
Não há pressa, a prioridade é que tu encontres novamente a tua essência para que tenhas presente em ti a alegria de ser e estar.
Quando o vazio instalar-se em teu peito, dando-te a sensação de angústia e esgotamento, repara tua atenção e encontra em ti mesmo a compreensão para este estado.
É necessário descobrirmo-nos em tais estados, para que estes não se transformem no desconhecido, no incontrolável.
Tudo pode ser mudado, existe sempre uma nova escolha para qualquer opção errada que tenhas feito.
Quando ouvires do teu coração que não há nenhuma necessidade em te preocupares com a vida, saibas que ele apenas quer que compreendas que nada é tão sério a ponto de te perderes para sempre da tua divindade, ficando condenado a não ver mais a luz que é tua por natureza.
Não te preocupes, se estiveres atento a ti mesmo verás que a sabedoria milenar está contigo, conduzindo-te momento a momento àquilo que realmente necessitas viver. Confia e vai em teu caminho de paz.
Nada é mais gratificante que ver alguém submergindo da escuridão apenas por haver acreditado na existência da luz.
Ela sempre esteve presente... Era só abrir os olhos..."

São Francisco de Assis

Precisava de ler isto hoje!

A entrevista já foi no início desta semana. Dizer que correu bem ou correu mal é demasiado preto no branco quando estas coisas são cheias de nuances em vários tons cinza. Estava relativamente confortável os requisitos e responsabilidades enquadravam-se dentro do meu perfil muito embora a área de negócio ser diferente da que eu estou habituada. Mas houve duas, duas simples questões que me apanharam de surpresa e para a qual eu não estava preparada. A primeira é que lugar era para substituição de licença de maternidade (não constava no anuncio), não pelo facto de ser apenas para desempenhar funções por um período de aproximadamente sete meses, até porque já fui a entrevistas em que me apresentaram contratos mensais mas pelo facto de como as coisas foram subitamente apresentadas e sem eu estar minimamente preparada para tal. Ultrapassada a surpresa no geral eu diria que a entrevista correu bem, respondi bem às situações. No entanto voltei a ser confrontada com uma ultima pergunta que me fez andar a pensar, angustiada, nestes últimos dias ... que me fez temer ter arruinado a minha prestação mas que a actual conjuntura económica do pais nos empurra:

A pergunta: Qual o vencimento pretendido?

A Resposta: nenhuma. Não faço a mínima ideia (já me ofereceram ordenado mínimo nacional para o dobro das tarefas e responsabilidades aqui solicitadas). Há algum tempo atrás, não muito, não seria difícil responder. Só que as dificuldades são muitas, cada vez maiores, e eu não posso fazer depender a minha vida de algo que é cada vez mais difícil ou impossível. Portanto a prioridade de momento é encontrar trabalho. As coisas desabaram quando insistem que eu apresente valores, fundamentado que chegar à 2ª fase de entrevista e renunciar ao posto por não aceitar os valores era uma perca de tempo para ambas as partes. Até concordo, cada ida a Lisboa para uma entrevista custa-me sempre mais de 10€ em transportes, ou seja ando a pagar mais de 10€ por cada carimbo que tenho que apresentar no IEFP, até fundamentei que estava disponível para receber o ordenado mínimo (mesmo sabendo que isso significa pagar para trabalhar),  que quero é um trabalho. Mas nada disto faz sentido, vim de lá sem saber quais as condições de trabalho, apenas com a promessa de uma resposta da parte deles até ao final da semana. E eu?? Não tenho direito a poder dar também uma resposta?? Mas resposta a quê, se nada foi apresentado???

Já fiz mais de quatro horas por dia em viagens para ir trabalhar, já estive a recibos verdes em condições precárias. Que poderia eu responder?

A verdade nua e crua é esta. Neste momento não tenho valores para atribuir à minha experiencia profissional. Como posso tê-lo? Já me rejeitaram pela idade (e isso assusta me brutalmente quando a minha idade de reforma será apenas daqui a 25 anos), por experiencia a mais (e isso orgulha-me porque sei que a experiencia que tenho me permite desempenhar funções que muitos não o conseguiriam além de que tenho a consciência que me adapto a qualquer nova situação e que a desempenharia com sucesso). Posto isto, onde está a minha falha? Não está. Por muito que lutemos, trabalhemos pelos nossos sonhos ou projectos, conseguir alcançá-los infelizmente não depende só do nosso querer ou lutar. E tenho de aceitar isso. Tenho apenas que estabelecer prioridades de acordo com o que tenho, ou não, em mãos, porque farta de fazer castelos nas nuvens estou eu. Não estou à espera de nada. Percorro o meu caminho calmamente, atenta ao que surge e que pode ser uma oportunidade, lanço a minha tentativa, porque só consigo alguma coisa se tentar, e sigo caminho sem esperar nada.

Preparada para começar a trabalhar na proxima semana, mesmo sabendo que seriam apenas sete meses, olhando para oportunidade como mais uma experiencia de vida, sabendo que não seria um projecto de vida. A notícia menos boa foi anunciada... e o resto foi discurso de consolação. "Gostámos muito, apreciamos o interesse e a disponibilidade, no entanto surgiram candidatos com o perfil aparentemente mais adequado...no entanto iremos guardar o CV para futuros processos de contratação. Boa sorte."

Acordei com alguma esperança, seria desta que a minha vida iria mudar. Acreditei. E não consegui. Posso ser boa, mas... não sou a melhor, não estou a conseguir, não estou a perceber o que está errado. Cai por terra. Perdi as forças, chorei...

“Eu estou aqui, vivo a vida com seus desafios. Eu não sou coitada e nem vítima dessa situação. Eu solto e assumo minha coragem! Assumo minha vontade de ir e a necessidade de elevar meu astral. Eu me alegro por falar o que quero. Por expressar meus sentimentos como são. Sim, eu posso me manter tranquila, deixando que as pessoas cuidem de seus problemas e assumindo os meus. Eu posso me manter tranquila não esperando nada de ninguém. Porque decido ter humor e não levar as coisas exageradamente a sério. Eu posso agir seriamente e sorrir sempre. Posso rir e jogar fora mágoas, tristezas e desilusões. Hum, que bom jogar fora as desilusões… Mais do que tudo isso, me aceito. Sou assim. Tenho uma série de defeitos e fraquezas. Mas é o que sou, é o jeito que eu sei fazer. Quero estar bem comigo. Os outros não fazem por mim. Eu me viro e vivo bem. Aconteça o que acontecer, eu me viro e vou arriscar.”

Luis António Gaspareto

Estas palavras encontraram-me, um exercício para eliminar a tristeza e bem a propósito dos vários acontecimentos dos últimos dias, em que a ansiedade, a tristeza a decepção tem sido uma das grandes causas deste meu estado de espírito. Frustração por esperar demais das pessoas? Sim é um erro que assumo e que teimo em cometer.

Não posso estar à espera...porque simplesmente quero, porque os outros têm o direito de fazer as suas próprias escolhas, têm o direito de não poderem ou de simplesmente não quererem. Tenho que aceitar...

Não posso estar à espera...porque vou de certeza desiludir-me, porque tenho que seguir em frente, porque apenas posso contar comigo e somente pensar que se algo vier por acréscimo será bem vindo.

Não me posso deixar vencer, não posso continuara sofrer mais por antecipação, não posso parar de lutar...tenho que sair desta tristeza, tenho que sair deste estado que me consome de dia para dia, tenho que mudar a minha energia, tenho que arriscar, tenho que enfrentar com coragem, tenho que continuar a dar o meu melhor. Quantos problemas eu já passei e pensei que não tinham solução, mas tiveram e eu estou aqui para contar a história...os de agora são apenas mais um trabalho, mais um desafio...só isso...Quero estar bem comigo! 

Preocupação significa pré-ocupar-me de algo antes que esse algo mereça a minha atenção.

Tenho que me proteger desse meu mau hábito. Tenho de deixar de gastar as minhas energias por antecedência, mas sim na hora certa!

E é assim mesmo!...