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"Dinis, queres vir comigo ao sotão? - convidou o avô Ernesto. -Vou lá buscar um baú de fotografias.
-Para quê - perguntou o Dinis?
-Para fazer um álbum sobre as nossas férias do verão passado e pôr também algumas fotografias na sala. De vez em quando é preciso cuidar do que já passou...
O Dinis nunca tinha pensado no que o avô Ernesto acabava e dizer:
"Cuidar do que já passou", repetiu no seu pensamento...
No seu dia a dia , o Dinis andava sempre com pressa, para ir para a escola, ou para ir para a natação, e via, todas as pessoas a correr e sem tempo para cuidar do que se estava a passar, quanto mais, para cuidar do que já tinha acontecido...
Avó e neto subiram até ao sotão. O avô empurrou a porta e o Dinis lembrou-se das histórias de encantar.
O avô acendeu a luz e e neto olhou em redor, sem conseguir dizer uma palavra perante o que via: baús de diferente formas e tamanhos, quadros, almofadas, livros e malas de viagem antigas.
Pegaram e duas almofadas e sentaram-se. Depois o avô abriu uma arca e, à medida que ia retirando cada objeto, contava uma história.
Enquanto ouvia todas estas aventuras, o Dinis conseguia ver os olhos azuis do avô Ernesto a sorrir, enquanto dizia...
-Enfim, tempos que já não voltam mas que também não vão embora...
-Isso é impossível avô!...
- Dinis, eu recordo todo esse tempo com muita saudade, mas sem tristeza, pois nunca me irei separar desses momentos que vivi.
-Mas ter saudades não é ficar triste? perguntou o neto.
-Depende do que tu fizeres com as saudades que sentes.Para mim, ter saudades é pensar no privilégio que tive em fazer os parte de bons momentos, não só recebendo coisas boas, mas também dando o melhor de mim para que a minha vida e a dos que estavam à minha volta fossem vidas cheias. E tudo isso ficou guardado na minha memória e jamais se perderá. Tudo o que vês neste sotão ajuda-me a recordar algumas histórias que vivi e que te contei. Mas onde essas histórias vivem realmente é na minha memória, que me recorda com saudade, aquilo que eu gostei de viver....
É preciso cuidar do que não se vê e que fica guardado na Caixa de Saudades, que, existe na memória de cada pessoa." Rosário Alçada Araújo. In. A Caixa de Saudades